quarta-feira, 18 de abril de 2012

Desabafo.

Ora,
o medo é o contrário do amor.
Vender pedra por preço de peixe, que feio.


O coração do homem é nascido inquieto, até encontrar a Paz do Criador; e usar essa inquietude em favor de orgulho próprio, cruel.
Sim, a igreja que de tanto achar que construíam, fizeram destruir.
O zelo falso me fez vontade de desacreditar na minha capacidade de zelar, e a dar mais crédito para quem um dia deve ter ficado na dúvida se valia a pena morrer por quem ia continuar pondo o suor de suas mãos na frente da cruz.
Sabe que é quase como layout meio pronto, que a gente compara com a primeira versão só pra dar um alívio de "ainda bem que eu melhorei isso".
Pois é, ainda bem que tem coisa melhor.
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Há quem tenha o coração tão frágil que é até bonito quando quebra.
Olha, pensando bem obrigada por me entregarem esse espetáculo em despedaços, muito lindo de ver.
Realmente, a minguada linha que de tanto quase 'rebentar ficou mais forte tem me rendido lágrimas e repentinos surtos de paixão.
Belíssimo espetáculo.
A iminência do desastre tem colorido nosso relacionamento de um azul escuro triste belíssimo.
Entendam como quiserem. Aliás, entender não é exatamente o forte de vocês não é,
que bom.
Melhor mesmo que não entendam a profundidade da ferida que estão abrindo nos outros, acho que não conseguiriam dormir.
Não entendam como quiserem.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A vida adulta.


















Então a vida é como um caminho que trilhamos.
Uma trilha em linha reta, a título de servir a minha metáfora.

Passada a infância, trajeto sem muitas surpresas e do qual não me lembro de ter encarado grande coisa de problemas, chega a adolescência.
Os problemas (coisas com as quais não sei lidar, infortunos, tristezas), começam a chegar.
Um de cada vez. "ó, fulaninho não gosta de mim! Que problema!"

Uma pedra.
Aí, adolescente, paro o caminho, olho para a pedra, ela olha pra mim, conversamos, discutimos, avaliamos, e depois de muita interação, lá vou eu, tiro a pedra do caminho, olho para frente e continuo o trajeto.

A adolescência vai passando, cada vez surgem mais pedras, maiores, mais difíceis.
Com certa dificuldade continuo no alto da minha maturidade retirando cada uma do caminho.

Pois bem, essa é a minha conclusão sobre a vida adulta.

As pedras cada vez maiores, aparecem cada vez mais rápido, numa velocidade que não dou conta, vão se empilhando uma em cima das outras e eu vou andando meio rindo meio desesperando empurrando essa bola de neve embolada no caminho tudo junto.
A adulteza é a ironia de responder "sim vou bem", atrás da pilhazinha que cresce.

E a verdade é que todo mundo tem lá suas pedras, e provavelmente a pilha vai ficando cada vez maior, mais desordenada e barulhenta nós viajantes cada vez mais conscientes de todos os seus detalhes.
E algumas vão ficar na pilha das "irresolvíveis", outras talvez demorarão, outras não.
Mas a vida é assim e se não tivesse pepinos não seria vida.

Divertida, confusa, enroscada e ainda-bem que consciente.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Bastura de alma.

Acho engraçado quando acontece isso.
A medida que ia ouvindo a música entrava em um estado de empolgação que quase me suspendeu a respiração: "é exatamente isso que eu queria dizer!"

A música de Stenio Marcius, em um culto lá na igreja.

Me diga andorinha, você,
Que já voou o mundo inteiro
Se houve um momento só,
Por cima de um continente,
por sobre qualquer cidade
em que te faltou o céu, será,
que o infinito espaço ao teu redor
é suficiente
pra voares livre,
e viver feliz.

Me diga peixinho dourado,
Senhor do vasto oceano
Que brinca nas correntezas
Se esconde em velhos navios
Mergulha nas profundezas
Sem nunca chegar ao fim, será
que os sete mares que são teus
tem bastante água
Pra nadares livre
e viver feliz.

Puxa uma cadeira minh'alma,
que eu quero te perguntar
Por que me roubas a calma,
E botas tristeza no olhar
Vamos entrar num acordo
Vida tranquila viver
lembra daquilo que o mestre falou:
"a minha graça te basta."


É isso! Talvez tratando a minha alma assim como se fosse outra pessoa eu consiga entender.
Que absurdo essa minha inquietude de alma, é como passarinho reclamando da falta de espaço, ou um peixezinho da falta de água. Talvez seja essa exatamente a medida desse absurdo, e olhar pra dentro enxergando como é absurdo me acalmou e me fez ficar repetindo por semanas : "lembra daquilo que o mestre falou, a minha graça te basta."
E basta?
Se sim, por que parece não bastar?

Será que o infinito amor dEle não é suficiente pra mim?
Ser cristão é isso então? Ter como verdade uma suficiência que vai contra todos os pilares de não-sei-que-capitalismo vigente que adora fazer a gente que nem tonto andando pelas lojas da vida procurando a próxima resposta/oferta para as nossas angústias.

Já estou quase beirando a desistência desse universo da internet miserável que escreveu na minha testa "você não tem desculpa pra não saber sobre isso", independente do assunto que for.
Avisa lá pro geniozinho que inventou essa internet do caramba que não tem me feito bem, não tem me dado "suficiência de alma". Não deve existir nada que me faça sentir mais insatisfeita do que a internet.
Eu poderia estar lendo sobre os novos pensamentos de design (já que dos velhos já enchi) procurando um apartamento pra morar em uma cidade que eu nunca estive, aprendendo alemão, exercitando o que quer que seja, mas quanto mais aparecem coisas úteis para se fazer na internet menos eu faço.

Preciso aprender que a graça me basta.
Essa bastura de alma que eu ainda não entendi.
Mais um item da minha listinha de "vamos trabalhar nisso."

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Sou cristã por falta de opção.

Pode ser que Ele queira que eu mude de profissão.
( agora faltando semanas para que eu me forme, isso soa bem incômodo.)
Ou pode ser que Ele queira sim que eu exerça minha profissão, mas em um lugar ou de um jeito totalmente diferente do que eu considero inteligente, sem nenhum prestígio, sem clientes importantes, sem ser do jeito que sempre sonhei.
Pode ser que me peça pra ir morar em Itaperuçu, em Londres, em Londrina, com uma família linda, ou sozinha.

Com certeza Ele gostaria que eu parasse de ser tão egoísta.

Isso significa que nem minha profissão, nem minha família, nem meu corpo ou meus sonhos deverão ter lugar maior na minha vida do que a vida dEle.

Significa que se tem gente passando fome isso é sim problema meu.
Se tenho amigos que estão com problemas ou pensando em se matar isso também é problema meu.


Se os evangélicos na política estão envergonhando o evangelho da justiça de Cristo isso também é problema meu.
Se o Brasil é um país de desigualdade e injustiça isso é problema meu.
Se ninguém mais acredita na família e no amor, se nessa lambança de sincretismo todo mundo acredita em tudo e em mais nada, se estão destruindo o planeta, se há tráfico, violência, prostituição, morte; se em caçador eles não tem banheiro dentro de casa e se os meus vizinhos moraram aqui 12 anos e nunca conversaram comigo, tudo isso também é problema meu.

Ninguém nunca disse que seria fácil.
Quer dizer, algumas igrejas dizem que é fácil, que dá dinheiro, que vai te deixar milionário, que vai te tirar dos problemas.
Mas é mentira, de milionário Jesus não tinha nada, não acredite nisso.
Ele trouxe um padrão altíssimo de justiça e de amor, viveu só para os outros e tinha uma inteligência alucinante.

Você vai participar de uma igreja e vai perceber que é feita de pessoas comuns, que quanto mais se relacionar mais vai ver pecados, mais vai ver como são podres.
Mais vai enxergar os seus próprios podres, mais vai rir da sua insignificância, mais vai chorar pelos outros e por si mesmo, mais vai perceber sua própria fraqueza e a de todos.

E se você realmente levar a sério, vai ser um constante insatisfeito e questionador, vai querer mudar o mundo e vai abrir mão de tudo pra poder estar mais perto dEle.



"Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo.
Jesus perguntou aos Doze: "Vocês também não querem ir?"
Simão Pedro lhe respondeu: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida Eterna. Nós cremos e sabemos que és o Santo de Deus."
João 6:68


Sim, pode ser (e certamente será) bem difícil.
Mas assim como respondeu Pedro, para quem iremos?
Em outras palavras, sei que a vida cristã não é um mar de rosas, mas se não for pra viver isso vou viver o quê?

As palavras de Jesus são verdadeiras, a eternidade é real, consigo sentir e entender uma série de coisas.
O evangelho me mostra uma lógica de existência que faz todo o sentido e me faz completa, e, quando lembro da Verdade não me resta opção.

Não posso ignorar tudo o que acontece a minha volta e a história da minha vida e da minha família e não viver isso.Não que o cristianismo implique em obrigação, longe disso, é essencialmente livre arbítrio.


Mas digo que não tenho outra opção, porque se não for pra viver isso, não vale a pena viver pra nada.

Posso escolher viver ou não.
Quem escolheria o contrário?

quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Festa

[parte quatro.]

Quando viu o primeiro convidado entrar por aquela porta ele sabia que nunca mais iria esquecer. Não era bonito, nem ao menos notável, nem de andar suave como do Mestre, e como podia ser tão diferente dEle, será que eram eles mesmo?


Lançaram todos olhares de dúvida ao Mestre e ao Filho, que responderam com de calma e certeza que trouxe ainda mais agonia ao coração deles, não podem ser esses os convidados, e olhe bem como estão imundos!

Perceberam que o cheiro vinha deles.

Não eram lindos, muito menos notáveis, eram ridículos.
Sujos, alguns de muletas, feios e acho que nojentos. Foram entrando um por um, lentamente e extasiados com as dimensões do Palácio e estavam todos felizes, como felizes, será que não estão vendo que essa Festa é para os convidados que esperamos desde sempre? Deviam chorar humilhados por terem a cara de pau de entrar aqui desse jeito imundo.

O chão foi ficando escuro por onde eles pisavam.

Pela primeira vez na vida ele sentiu vergonha de ter trabalhado no Palácio.
Odiava com todas as forças cada passo que os convidados davam, que carregados de sujeira foram emporcalhando todo o serviço que ele demorou uma vida inteira para ouvir do Mestre " está pronto".


Estavam todos paralizados.
Os convidados não viriam para o evento mais importante de todos.
O Mestre e o Filho pareciam saber disso desde sempre.
Esses que estavam ali eram o retrato do que de mais ínfimo e feio eles conheciam.

Foram entrando.
Todos,
um a um.
O cheiro vinha deles e o barulho insuportável ia sumindo aos poucos.

O Mestre nunca tinha falado sobre aqueles mendigos, e parecia sempre brilhar os olhos quando falava da festa e dos convidados. Mas se sabia que os verdadeiros convidados não viriam e que só viriam esses por que não cancelou a Festa?

Foi por causa desses aqui que o Filho ficou fora todo esse tempo?






O Mestre finalmente dirigiu a palavra a eles,
"Desamarrem suas capas e busquem água em bacias de prata.
Vocês ainda não entenderam."

domingo, 25 de abril de 2010

A Festa.

[ parte três.


Mas tem algo atrapalhando, esse barulho.

Alguém não fez o que devia ter feito!

O sonho parece de repente acabou e todos ficaram a flor da pele porque algo não estava certo.


É esse barulho estranho, e um cheiro ruim.

Pensaram que havia alguma coisa errada na cozinha, ou sei lá,


deve ter alguma coisa errada .

Os convidados estão chegando alguém deve fazer alguma coisa!


Um a um eles começaram a agitar-se, e sabendo que não tinham permissão para mover-se de seus postos começaram a olhar uns para os outros para saber quando o Mestre chegaria para resolver.


Ele sempre resolvia tudo.


O barulho aumentava, e o cheiro ruim também.

O desespero era tamanho, e a agonia do cheiro que ninguém explicava e o barulhinho chato como que de criança chorando tão agonizante que não sabiam se era mesmo de fora ou de dentro deles, com o pânico que se instalava no Palácio.


O Mestre entrou no salão, mais radiante do que nunca, e como que sabendo de tudo e achando tudo normal,

[como normal, será que Ele não percebe que está dando tudo errado? Por que não manda alguém parar com esse barulho insuportável?]

pediu para começar a música.


E os que estavam cuidando dos seus instrumentos no andar superior,

porque o salão tinha muitos andares,

que já estavam ensaiando as músicas desde sempre, começaram a tocar, meio trêmulos porque afinal estava tudo dando errado e é pra tocar mesmo? O Mestre pediu!


O Filho entrou no salão.

Ainda mais bonito do que era no dia em que saiu.

Da mesma cor e andar do Mestre foi caminhando lentamente pelo salão até que parou na frente dEle.


Cada passo que Ele dava parecia pisar na alma deles, e doía tanto que a vontade contida de urrar de dor pelo desespero estava devorando a todos por dentro.


Pelo menos o chão ainda está limpo, pensou, claro que pequeno, diante do tamanho da desgraça, da Festa que iria dar errado.


Os convidados não vem, disse o Filho.

Eu sabia que não viriam. Você também sabia, Filho. Meu coração não aguenta de alegria pela Festa de hoje.

Que bom que você está aqui.


Os dois deram um longo abraço e firmaram o olhar na direção da Entrada.


O cheiro ficava cada vez pior e o som parecia aumentar e quase não se ouvia a orquestra lá em cima.


Eles chegaram, disse o Mestre.


domingo, 18 de abril de 2010

A Festa

[parte dois]

"O dia chegou.

Todos vocês sabem como aguardo pelos convidados.
Dolorosa e ansiosamente.
Gostaria que hoje a noite cada um tomasse sua posição e aguardasse no salão porque, o Mestre embargou as palavras e marejou os olhos quando disse isso,
os convidados estão chegando."

A medida que iam passando pelo salão até os seus postos,
em absoluto e suspenso
silêncio,
ele pensou que valeu a pena o esforço, o chão estava perfeito.



Ele com os outros já haviam passado muito tempo discutindo sobre os convidados.
Será que poderemos olhar suas vestes?
Convidados tão especiais do mestre, devem ser absolutamente bonitos.
Que honra trabalhar pra eles, acho que a Festa vai ser inesquecível.




Mas o dia passou sem nenhuma palavra.
Todos emudecidos com a expectativa, parados, esperavam, cada um no seu lugar.
O sinal soou e quase que ninguém ouviu, porque já tinham passado esse dia em suas mentes tantas vezes que já sabiam de memória tudo o que aconteceria, e, sabendo, soava quase como a repetição de um sonho frequente.