quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Festa

[parte quatro.]

Quando viu o primeiro convidado entrar por aquela porta ele sabia que nunca mais iria esquecer. Não era bonito, nem ao menos notável, nem de andar suave como do Mestre, e como podia ser tão diferente dEle, será que eram eles mesmo?


Lançaram todos olhares de dúvida ao Mestre e ao Filho, que responderam com de calma e certeza que trouxe ainda mais agonia ao coração deles, não podem ser esses os convidados, e olhe bem como estão imundos!

Perceberam que o cheiro vinha deles.

Não eram lindos, muito menos notáveis, eram ridículos.
Sujos, alguns de muletas, feios e acho que nojentos. Foram entrando um por um, lentamente e extasiados com as dimensões do Palácio e estavam todos felizes, como felizes, será que não estão vendo que essa Festa é para os convidados que esperamos desde sempre? Deviam chorar humilhados por terem a cara de pau de entrar aqui desse jeito imundo.

O chão foi ficando escuro por onde eles pisavam.

Pela primeira vez na vida ele sentiu vergonha de ter trabalhado no Palácio.
Odiava com todas as forças cada passo que os convidados davam, que carregados de sujeira foram emporcalhando todo o serviço que ele demorou uma vida inteira para ouvir do Mestre " está pronto".


Estavam todos paralizados.
Os convidados não viriam para o evento mais importante de todos.
O Mestre e o Filho pareciam saber disso desde sempre.
Esses que estavam ali eram o retrato do que de mais ínfimo e feio eles conheciam.

Foram entrando.
Todos,
um a um.
O cheiro vinha deles e o barulho insuportável ia sumindo aos poucos.

O Mestre nunca tinha falado sobre aqueles mendigos, e parecia sempre brilhar os olhos quando falava da festa e dos convidados. Mas se sabia que os verdadeiros convidados não viriam e que só viriam esses por que não cancelou a Festa?

Foi por causa desses aqui que o Filho ficou fora todo esse tempo?






O Mestre finalmente dirigiu a palavra a eles,
"Desamarrem suas capas e busquem água em bacias de prata.
Vocês ainda não entenderam."