domingo, 25 de abril de 2010

A Festa.

[ parte três.


Mas tem algo atrapalhando, esse barulho.

Alguém não fez o que devia ter feito!

O sonho parece de repente acabou e todos ficaram a flor da pele porque algo não estava certo.


É esse barulho estranho, e um cheiro ruim.

Pensaram que havia alguma coisa errada na cozinha, ou sei lá,


deve ter alguma coisa errada .

Os convidados estão chegando alguém deve fazer alguma coisa!


Um a um eles começaram a agitar-se, e sabendo que não tinham permissão para mover-se de seus postos começaram a olhar uns para os outros para saber quando o Mestre chegaria para resolver.


Ele sempre resolvia tudo.


O barulho aumentava, e o cheiro ruim também.

O desespero era tamanho, e a agonia do cheiro que ninguém explicava e o barulhinho chato como que de criança chorando tão agonizante que não sabiam se era mesmo de fora ou de dentro deles, com o pânico que se instalava no Palácio.


O Mestre entrou no salão, mais radiante do que nunca, e como que sabendo de tudo e achando tudo normal,

[como normal, será que Ele não percebe que está dando tudo errado? Por que não manda alguém parar com esse barulho insuportável?]

pediu para começar a música.


E os que estavam cuidando dos seus instrumentos no andar superior,

porque o salão tinha muitos andares,

que já estavam ensaiando as músicas desde sempre, começaram a tocar, meio trêmulos porque afinal estava tudo dando errado e é pra tocar mesmo? O Mestre pediu!


O Filho entrou no salão.

Ainda mais bonito do que era no dia em que saiu.

Da mesma cor e andar do Mestre foi caminhando lentamente pelo salão até que parou na frente dEle.


Cada passo que Ele dava parecia pisar na alma deles, e doía tanto que a vontade contida de urrar de dor pelo desespero estava devorando a todos por dentro.


Pelo menos o chão ainda está limpo, pensou, claro que pequeno, diante do tamanho da desgraça, da Festa que iria dar errado.


Os convidados não vem, disse o Filho.

Eu sabia que não viriam. Você também sabia, Filho. Meu coração não aguenta de alegria pela Festa de hoje.

Que bom que você está aqui.


Os dois deram um longo abraço e firmaram o olhar na direção da Entrada.


O cheiro ficava cada vez pior e o som parecia aumentar e quase não se ouvia a orquestra lá em cima.


Eles chegaram, disse o Mestre.


domingo, 18 de abril de 2010

A Festa

[parte dois]

"O dia chegou.

Todos vocês sabem como aguardo pelos convidados.
Dolorosa e ansiosamente.
Gostaria que hoje a noite cada um tomasse sua posição e aguardasse no salão porque, o Mestre embargou as palavras e marejou os olhos quando disse isso,
os convidados estão chegando."

A medida que iam passando pelo salão até os seus postos,
em absoluto e suspenso
silêncio,
ele pensou que valeu a pena o esforço, o chão estava perfeito.



Ele com os outros já haviam passado muito tempo discutindo sobre os convidados.
Será que poderemos olhar suas vestes?
Convidados tão especiais do mestre, devem ser absolutamente bonitos.
Que honra trabalhar pra eles, acho que a Festa vai ser inesquecível.




Mas o dia passou sem nenhuma palavra.
Todos emudecidos com a expectativa, parados, esperavam, cada um no seu lugar.
O sinal soou e quase que ninguém ouviu, porque já tinham passado esse dia em suas mentes tantas vezes que já sabiam de memória tudo o que aconteceria, e, sabendo, soava quase como a repetição de um sonho frequente.

domingo, 11 de abril de 2010

[com o perdão da analogia] A Festa.

[parte um.]


Passara tanto tempo limpando aquele mármore branco que nem se lembrava de não precisar fazê-lo. Era sua função desde que se lembra, cuidar do chão para que ficasse perfeito. O Mestre havia dito que não existia nada mais importante do que aquela comemoração, e o Palácio deveria estar perfeito. Quando perguntado sobre a data, preferia não revelar, mas insistia em dizer que "breve".


Nunca soube dizer sua idade, e ainda não o sabia, e isso também não importa. Aliás, a não veracidade costuma enriquecer as analogias; não presta ficar falando sobre tempo agora.

Veracidade não é a melhor palavra, porque há coisas aqui que mais verdadeiras e reais estou para conhecer.

É analogia porque não serve como referência histórica e talvez até ofenda alguém a forma com que eu empilhei essas histórias todas para contar uma minha, enfim.


O mestre gosta de analogias.


Era nisso que ele pensava enquanto esfregava o borrado no chão até que ficasse branco, o Mestre fala de um jeito às vezes que é meio enigmático.

Mas adorável, fato.


O salão do palácio era enorme, maior do que qualquer um que existe, e diz-se que salão por apenas supor que ele tenha um fim.

Mas era tão enorme que parecia não ter.

Ele nunca achara medíocre sua função, ninguém fazia isso entre eles. Tão somente alegrava-se de participar da Festa e saber que os convidados de quem o Mestre tanto falava um dia pisariam naquele branco, é melhor que fique ainda mais branco, e se sentirão bem recebidos, tomara.


O Filho do Mestre havia saído já a algum tempo, e esperavam sua volta. Comemoraremos sua volta, alguns diziam. A chegada dos convidados, diziam outros e mal posso esperar, exclamava o Mestre de vez em quando quando apressado passava como que pensamentos em voz alta, nem sei se era para alguém ouvir.


Então o dia amanheceu agitado e suspeito, e ele não viu ninguém no caminho até o Palácio e seu coração começou a bater forte, será que chegou o dia?


O Mestre estava esperando no salão com as mãos em cima da vassoura do balde, são minhas coisas o que o Mestre está fazendo aqui?, será que fiz alguma coisa errada? Não sei se devo perguntar, ou agradecer, que honra o Mestre nas minhas coisas!, está pronto, Ele disse.


Como assim pronto?

Chegou o dia, seu trabalho está terminado.


Como que esperando o Mestre olhou fundo nos olhos dele e fez com a cabeça apontando para uma sala ali perto.


Estava um burburinho contrito na sala, todos ansiosos por orientação.

Como ele, cada um desempenhou sua função até ali e estavam aguardando o que viria acontecer.



Silêncio.