domingo, 11 de abril de 2010

[com o perdão da analogia] A Festa.

[parte um.]


Passara tanto tempo limpando aquele mármore branco que nem se lembrava de não precisar fazê-lo. Era sua função desde que se lembra, cuidar do chão para que ficasse perfeito. O Mestre havia dito que não existia nada mais importante do que aquela comemoração, e o Palácio deveria estar perfeito. Quando perguntado sobre a data, preferia não revelar, mas insistia em dizer que "breve".


Nunca soube dizer sua idade, e ainda não o sabia, e isso também não importa. Aliás, a não veracidade costuma enriquecer as analogias; não presta ficar falando sobre tempo agora.

Veracidade não é a melhor palavra, porque há coisas aqui que mais verdadeiras e reais estou para conhecer.

É analogia porque não serve como referência histórica e talvez até ofenda alguém a forma com que eu empilhei essas histórias todas para contar uma minha, enfim.


O mestre gosta de analogias.


Era nisso que ele pensava enquanto esfregava o borrado no chão até que ficasse branco, o Mestre fala de um jeito às vezes que é meio enigmático.

Mas adorável, fato.


O salão do palácio era enorme, maior do que qualquer um que existe, e diz-se que salão por apenas supor que ele tenha um fim.

Mas era tão enorme que parecia não ter.

Ele nunca achara medíocre sua função, ninguém fazia isso entre eles. Tão somente alegrava-se de participar da Festa e saber que os convidados de quem o Mestre tanto falava um dia pisariam naquele branco, é melhor que fique ainda mais branco, e se sentirão bem recebidos, tomara.


O Filho do Mestre havia saído já a algum tempo, e esperavam sua volta. Comemoraremos sua volta, alguns diziam. A chegada dos convidados, diziam outros e mal posso esperar, exclamava o Mestre de vez em quando quando apressado passava como que pensamentos em voz alta, nem sei se era para alguém ouvir.


Então o dia amanheceu agitado e suspeito, e ele não viu ninguém no caminho até o Palácio e seu coração começou a bater forte, será que chegou o dia?


O Mestre estava esperando no salão com as mãos em cima da vassoura do balde, são minhas coisas o que o Mestre está fazendo aqui?, será que fiz alguma coisa errada? Não sei se devo perguntar, ou agradecer, que honra o Mestre nas minhas coisas!, está pronto, Ele disse.


Como assim pronto?

Chegou o dia, seu trabalho está terminado.


Como que esperando o Mestre olhou fundo nos olhos dele e fez com a cabeça apontando para uma sala ali perto.


Estava um burburinho contrito na sala, todos ansiosos por orientação.

Como ele, cada um desempenhou sua função até ali e estavam aguardando o que viria acontecer.



Silêncio.


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