domingo, 17 de maio de 2009

sobre quem sou...

Pergunte então das coisas que faço, como faço.
Das atividades que eu executo, das coisas que prefiro fazer e até daquilo que insisto e faço questão e digo que gosto de fazer.
Pode ser que entenda um pouco da minha rotina, das pessoas e lugares que preenchem as várias horas que por convenção chamo de meu dia.

Ou pergunte do que tenho, os presentes que me foram dados, conte o numero dos que atendem por “meus amigos”. O número de roupas que são minhas, do quanto vale a minha hora no estágio, dos objetos que pra mim são caros (importantes não necessariamente monetariamente valiosos) e que de certa forma dizem um pouco mais de mim.

Mas não me pergunte quem eu sou.
Porque a essência real de toda uma existência pra mim é um troço tão precioso e misterioso que nem me arrisco a dizer de mim.

Posso arriscar que sou dentro da minha mente, que penso logo existo, e que ser Martina é resultado do monte de reações químicas complexas que eu não conheço e que multiplicam 7 por 15 fazendo primeiro sete vezes dez, porque é só pôr o zero, depois soma com sete vezes cinco que é trinta e cinco e aí setenta mais trinta e cinco. Para somar procuro quanto falta para fechar cem, trinta, sobram cinco, dá cento e cinco. Sempre fiz assim.

Ou talvez que existo no que chamamos de coração, sentimento. O que me traz o nó na garganta antes do choro, que puxa a bochecha antes do sorriso, que fecha os olhos antes do beijo e o que me convence da relevância de chorar sorrir ou beijar.

Mas muitas vezes tive que abrir mão de minhas próprias vontades por causa dos meus sentimentos, por isso não podem conter toda a minha essência. Qualquer um que se denomine “ser humano” certamente já passou por esse tipo de situação, não entendeu nada e acreditou mesmo que talvez deva ser bem mais fácil ser uma árvore, que só precisa... existir. (Ta, existir não é tão simples. Se fosse eu teria acabado esse negócio em uma frase.)

Quem sabe então minha essência seja a minha alma, que provavelmente seja a coisa de que eu menos entenda no universo.
Acima e mais profunda e intensa e sutil do que tudo aquilo que faço, tenho, penso e sinto.
Não sei se independe do contexto que vivo, se seria a mesma nascendo na Tailândia em 1830.
Talvez sim, talvez não.

Tenho me perguntado muito sobre quem sou, principalmente por estar crescendo e por sentir que isso independe (quase sempre) de mim. Por estar aprendendo a lidar com situações e idéias e pessoas que se responsabilizam por elas.
Percebo hoje que a Cruz é maior que qualquer esforço que eu faça. Que de fato o perfeito amor espanta fora todo o medo, como um bebê nos braços da mãe, como a voz dEle por sobre a tempestade, como a nossa casa naqueles dias de chuva fria.
Que a Graça é mais importante que meus erros, e que existe algum jeito de conciliar, afinal, o meu Livre Arbítrio com a Onisciência dEle.

Mas é pouco. Muito pouco.
E ainda bem.
Gosto de perceber como ainda sou pequena, como tem tantas outras coisas que preciso viver e aprender.
E assim quando descanso na minha insignificância percebo a grandeza do meu Deus.
Que provavelmente seja o que mais sabe sobre quem eu sou.
Aquele que ousa se chamar de “Eu Sou”. Que tem na sua existência a sua identidade e na sua identidade a sua existência. Que é Verbo. E se fez carne, e habitou aqui, nesse mundo podre, cheio de serezinhos insignificantes que acreditam que significam tanto.
E que é razão dos meus dias e que me aceita e me sustenta.

E que decidiu não me fazer árvore, que me fez nascer nesse país, nesse contexto, em 1988, de manhã, com esse nome, com essa família.
Que me fez preferindo o doce ao salgado, a piada ao silêncio, o tênis à sandália e o Novo Testamento ao Velho. [O que de fato não me impede de concluir que às vezes não há nada melhor que o silêncio, que eu preciso do salgado pra gostar do doce, do Velho para entender o Novo e que de verdade a sandália combina bem mais com esse vestido.]

Porque por ele e para ele são todas as coisas, grandes ou pequenas.
Incluindo eu, assim meio inacabada, e tudo aquilo que ainda vou ser.