segunda-feira, 15 de junho de 2009

Simples.

"Não é que o simples seja desleixado, não é isso.
É o simples, o substantivo.
É a única coisa que poderia ser.
O simples é o irredutível."

walter lima jr. - cineasta.

Acho que existe qualquer coisa de suspenso na chuva e na música que às vezes dá vontade de achar algum canto pra tentar distorcer os pensamentos todos que correm rápido por dentro da gente e não nos deixam perceber o tempo.
Adorei essa frase dita por esse moço nesse documentário sobre o olhar, Janela da Alma.
E de fato, por mais que demore um pouco pra gente perceber, é muito mais fácil complicar do que descomplicar.
E talvez por isso ser professor seja tão difícil.

Simplificar é complicado, e o essencial das coisas fica tão no fundo, e é preciso olhar tanto tempo pra poder enxergar as cores.
Essa coisa de assistir filmes e viver com enredos que se enroscam nas nossas vidas às vezes irrita.
Porque o filme tem que colocar em duas horas diálogos e personagens e cores suficientemente encantadores pra que possamos parar nossas vidinhas por duas horas e deixar-nos absorver por qualquer coisa que não faz parte da nossa vida.
O que na verdade não é lá um grande feito, afinal, as vezes levamos uma vida tão medíocre que faz bem sair um pouco dela.
Mas ao mesmo tempo é sim grande coisa, afinal, não é qualquer um que consegue me parar no meu trajeto (de sempre, sempre o mesmo) pra ouvir qualquer bobagem sobre a nova promoção da C&A.

Talvez eu precise mesmo um pouco mais do simples.
É como se às vezes me desse vontade de sentar numa poltrona de canto, e ter meus pensamentos assistidos do lado de fora da chuva, e, assim bem espaçados, terminassem com algumas frases de efeito que fizessem os mais sensíveis na sala, lá ao fundo, sentirem um aperto de garganta, de choro.
Algo que terminasse com umas notas de piano suaves e tristes.

Como é difícil emocionar alguém, hoje em dia.
Não que eu tenha vivido muito em outros tempos, mas acho que dá um efeito importante na frase quando a gente especifica a situação contextualizando com um "hoje", pra que nenhum velinho experiente possa rir das minhas constatações.
(O que não deixa também de ser apenas um medo bobo, porque qualquer velho sábio que se preze vai me olhar do alto dos seus setenta e poucos anos e constatar que eu ainda tenho muito aprender. E diferente de mim, não tem problema nenhum em guardar as vitórias da sua sabedoria pra si mesmo, a fim de não desmerecer ninguém.)
Não dá tempo de ficar esperando o sentimento vir com alguma música, com alguém, sei lá.
As coisas vem tão rápido, e as imagens são tão fortes, e se 30 segundos não forem suficientes pra fazer alguém querer comprar esse sabonete então nada mais será.




Sobre o simples,
que não tem nada de simples.