terça-feira, 12 de julho de 2011

Bastura de alma.

Acho engraçado quando acontece isso.
A medida que ia ouvindo a música entrava em um estado de empolgação que quase me suspendeu a respiração: "é exatamente isso que eu queria dizer!"

A música de Stenio Marcius, em um culto lá na igreja.

Me diga andorinha, você,
Que já voou o mundo inteiro
Se houve um momento só,
Por cima de um continente,
por sobre qualquer cidade
em que te faltou o céu, será,
que o infinito espaço ao teu redor
é suficiente
pra voares livre,
e viver feliz.

Me diga peixinho dourado,
Senhor do vasto oceano
Que brinca nas correntezas
Se esconde em velhos navios
Mergulha nas profundezas
Sem nunca chegar ao fim, será
que os sete mares que são teus
tem bastante água
Pra nadares livre
e viver feliz.

Puxa uma cadeira minh'alma,
que eu quero te perguntar
Por que me roubas a calma,
E botas tristeza no olhar
Vamos entrar num acordo
Vida tranquila viver
lembra daquilo que o mestre falou:
"a minha graça te basta."


É isso! Talvez tratando a minha alma assim como se fosse outra pessoa eu consiga entender.
Que absurdo essa minha inquietude de alma, é como passarinho reclamando da falta de espaço, ou um peixezinho da falta de água. Talvez seja essa exatamente a medida desse absurdo, e olhar pra dentro enxergando como é absurdo me acalmou e me fez ficar repetindo por semanas : "lembra daquilo que o mestre falou, a minha graça te basta."
E basta?
Se sim, por que parece não bastar?

Será que o infinito amor dEle não é suficiente pra mim?
Ser cristão é isso então? Ter como verdade uma suficiência que vai contra todos os pilares de não-sei-que-capitalismo vigente que adora fazer a gente que nem tonto andando pelas lojas da vida procurando a próxima resposta/oferta para as nossas angústias.

Já estou quase beirando a desistência desse universo da internet miserável que escreveu na minha testa "você não tem desculpa pra não saber sobre isso", independente do assunto que for.
Avisa lá pro geniozinho que inventou essa internet do caramba que não tem me feito bem, não tem me dado "suficiência de alma". Não deve existir nada que me faça sentir mais insatisfeita do que a internet.
Eu poderia estar lendo sobre os novos pensamentos de design (já que dos velhos já enchi) procurando um apartamento pra morar em uma cidade que eu nunca estive, aprendendo alemão, exercitando o que quer que seja, mas quanto mais aparecem coisas úteis para se fazer na internet menos eu faço.

Preciso aprender que a graça me basta.
Essa bastura de alma que eu ainda não entendi.
Mais um item da minha listinha de "vamos trabalhar nisso."

Um comentário:

  1. Hum.

    Boas perguntas.
    [E pra mim o velho clichê ainda sempre é importante, de que mais valem as perguntas do que as respostas. As perguntas mantém viva uma sensação e inquietação que soa/parece precisar ser respondida, de alguma forma, ou algum momento; e que, pensando bem, para ser bem respondida, sempre traz mais perguntas e questionamentos, que acabam afastando-as mais ainda do ponto de interrogação inicial. As respostas normalmente trazem o ponto final; acalmam alguns corações, mas inquietam os mais fuxiqueiros, despertam no ponto em si uma indignação por simplesmente não deixar espaço para continuação, por não serem três pontos. De qualquer forma, é divertido o legado que a busca por uma resposta traz de deixar no ar mais cinco, seis, quinze perguntas...]

    Fora do universo das perguntas e das respostas, o problema da alma parece não ter sido batata pra ninguém. Salomão quis tudo, teve tudo, seu raciocínio parece ter chegado muito mais longe do que qualquer um dos nossos, e nada disso bastou pra que sua alma repousasse sossegada na cadeira. A impressão que dá é de que a saciedade da alma seja como um facho de céu, uma pequena brecha que se abre da plenitude de Deus que nos deixa contemplar por instantes o seu sentimento de ser completo, de não ter mais nada a responder na pilha de "pensar sobre isso", de não ter mais nada na lista de planos a fazer, das listas de coisas com o que preocupar. Como todas as preocupações, planos e inquietudes tem prazos, datas, deadlines (que cada vez com maior frequência parecem estar sempre vencidos, antes mesmo de terem sido concebidos), e se não, pelo menos uma sensação de que devem ser a 'próxima coisa a ser resolvida', ou 'algo a ser tratado em um tempo próximo', na 'próxima fase' – ou qualquer sinônimo do gênero-, isso me lembra que estamos presos em uma finita e limitada linha do tempo. Invariavelmente, isso me faz pensar que a tão desejada quietude, bastura, saciedade de alma, repousa na qualidade de Deus de não pertencer ao tempo; de não estar preso a um calendário que corre e vai puxando furiosamente ao nosso encontro as coisas que estão lá na frente. Alcançá-la, então, deve-nos fazer mergulhar um pouquinho nesse universo completo de Deus, onde o amanhã na verdade não importa, afinal tudo é hoje, e neste instante, Deus já cuidou de tudo, não há o que temer; o corpo e a alma estão bem; pois do vestir e comer, ele já deu um jeito.
    Voltar pra nossa timeline árdua e voraz, e ainda continuar repousando nesse ritmo de Deus, me faz pensar (agora largando o discurso humano por um bem crente) ser consequência da esperança, que imagino vir pela fé. Sei que Cristo já venceu, que a igreja será resgatada, que lá na frente já está resolvido. Até lá, ele prometeu sustento, o necessário. Nossa única preocupação válida deveria ser então aqueles que ainda não acordaram pra ver que nunca serão satisfeitos enquanto estiverem rebeldes a Deus em seus próprios caminhos, e aqueles que estão muito preocupados passando fome, apanhando ou sendo oprimidos de qualquer forma, pra conseguirem pensar em suas próprias almas. Mas essa talvez seja uma inquietação boa, que nos é despertada após entrarmos em contato com toda essa doidera de Deus.
    Queria terminar esse comentário de um jeito mais esperto, revendo alguns textos legais sobre isso (pra lembrar minha alma de se acalmar, já que ela parece que não se fartar nem nessa frase, pois não se satisfaz mesmo depois de toda essa baboseira que escrevi), mas me contento com a ironia de Jesus em comparar a florzinha do campo com Salomão – talvez o cara que mais tenha se preocupado em tentar se fartar.

    Não conseguiu, parece.





    'todo o trabalho do homem é para sua boca, e contudo nunca se satisfaz a sua cobiça.'

    'todos os seus dias são dores, e a sua ocupação é desgosto; até de noite não descansa o seu coração. também isto é vaidade.'

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